A "Satanização" da Pirataria
A pirataria foi assunto da edição número 1.996 da revista Veja em sua seção "Guia". A matéria trazia o ranking da pirataria no Brasil e no mundo, quais os produtos mais pirateados e os possíveis danos a aparelhos e à saúde de quem os consome. Este último elemento da matéria, em especial, chama a atenção nem tanto pelas informações publicadas, mas, sim, por apelar para um discurso terrorista e pouco embasado.
Alguns trechos da matéria:
** "O tênis pirata costuma causar bolhas mesmo em quem o usa com pouca freqüência. As deficiências do modelo copiado também são potenciais fontes para dores na planta dos pés, nos tornozelos e na região lombar. Com o uso intensivo do calçado pirata, afirmam os médicos ouvidos por Veja, podem surgir ainda problemas nos ligamentos, nos joelhos e nos tendões."
** "Os discos pirateados apresentam superfície curva: ainda que praticamente imperceptíveis, as irregularidades no disco pirata impedem que ele gire no aparelho de forma regular – como ocorre com o CD original. Resultado: o disco falsificado exige uma força maior da parte mecânica, o que acelera o desgaste da máquina."
Esta abordagem amendrontadora está presente em todo corpo da reportagem, que traz pouca informação útil para quem pretende compreender o fenômeno da cópia ilícita, suas implicações para o mercado, os interesses envolvidos, o papel da tecnologia, da política, das leis e dos costumes num cenário de mudança na forma como se produz e consome informação e produtos.
Estudo da Interpol (International Criminal Police Organisation) divulgado no final do ano passado revela que a pirataria movimentou, em 2005, volume superior a 530 bilhões de dólares no mundo, enquanto o narcotráfico respondeu por 360 bilhões de dólares no mesmo período...
Primeira parte de meu artigo, publicado hoje no Observatório da Imprensa, analisando reportagem da Veja falando sobre pirataria.
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